FOLHA DE SÃO PAULO

São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 2006

Petistas usaram eleições para “elaborar” luto do partido, diz psicanalista
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para o psicanalista Sergio Telles, o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, fez o petista Luiz Inácio Lula da Silva respirar aliviado no final do primeiro bloco do debate da TV Record.

“Pensei que ele [Alckmin], eventualmente, pudesse voltar à carga inquisitória como na Bandeirantes. Quando ele falou de dois escândalos, pensei que um deles fosse o caso que envolve o filho de Lula. E não foi. Isso marcou o tom de todo o resto do debate: mais morno.”

A Folha acompanhou o duelo dos candidatos na casa do analista. “Alckmin não fez isso por bondade. Foi por estratégia, em virtude da avaliação que deve ter tido. No primeiro [debate], Lula, acuado, tornou-se vítima. A população se identificou com o mais frágil.”

Para Telles, “as pessoas esperam ouvir a verdade [em debates], mas é uma ingenuidade”. O importante, diz, é que os eleitores saiam do “papel infantil”. “Os políticos falam o que querem. É como se eles fossem os pais e tivessem falando de um assunto que eu, criança, não entendo. Uma discussão na qual não posso intervir. Assim o eleitor não pode cobrar coerência.”

Segundo o psicanalista, essa é a eleição em que os petistas “estão elaborando o luto”. “A militância está tendo de elaborar um luto muito grande, toda a fantasia que tinha de um partido ideal. Eles caíram na real”.

O processo, afirma o analista, foi em etapas: “Vi isso até em amigos meus. Primeiro, era a negação total. Agora, chega a hora de justificar o que aconteceu”.

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