BUENA VISTA SOCIAL CLUB

BUENA VISTA SOCIAL CLUB é uma prova do que um diretor de grande talento – no caso Wim Wenders – pode fazer dentro das limitações que o gênero documentário determina. O filme registra o trajeto do musico americano Ry Cooder ao reagrupar velhos músicos populares cubanos para a feitura do disco que tem o título do filme, e posteriormente levá-los para uma apresentação no Carnegie Hall, em Nova York.

Com grande respeito, vemos esses músicos saindo do ostracismo – o cantor estava ganhando a vida como engraxate, o extraordinário pianista não tocava há 10 anos – e retomando seu ofício, seu brilho, seu público.

É facil fazer uma leitura política simplista de BUENA VISTA SOCIAL CLUB e dizer que Wim Wenders mostra como os valores reais da música cubana são resgatados pelo capitalismo americano, na produção de um disco e que todo o filme serve para desmoralizar Fidel e os feitos da revolução, ao mostrar uma Havana favelizada frente aos explendores de Nova York.

Mas acho que o escopo de Wim Wender não é esse. Ele faz uma meditação mais ampla sobre a injustiça social que leva à revolução e seu subsequente fracasso, assim como sobre a condição do artista e sua relação com o meio e o tempo em que vive. Wenders mostra como o artista resiste às grandes marés que o mundo político provoca.

Há um olhar melancólico sobre as grandes mudanças pretendidas por uma revolução. Depois de anos de ensino e propaganda de materialismo ateu, mantem-se intata a religiosidade, as crenças populares… Por outro lado, ao mostrar a gritante discrepância entre Nova York e Havana, muito mais que mera propaganda anti-castrista, Wenders registra o abismo entre o primeiro e o terceiro mundo, a persistência da imenso fosso entre os que têem e os que não têem, a injustiça social implícita nisso, a necessidade de manter acesa a indignação e a luta por um mundo melhor.

Duas coisas mais. O maremoto da revolução cubana quase destruiu aqueles músicos que vemos em BUENA VISTA SOCIAL CLUB. Não podemos ignorar outro perigo que ameaça a música popular de uma nação: o lixo cultural exportado pelo primeiro mundo e que sufoca a produção local dos países da periferia do capitalismo.

Outro ítem importante – nesses tempos de globalização, onde um homem de 55 anos é descartado de seu emprego como velho e superado, é reconfortante ver ali velhos cantores e músicos no pleno exercicio de suas capacidades, aprimoradas pela experiência vivida.

 

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