Anotações acerca de AMERICAN BEAUTY

Ver o filme AMERICAN BEAUTY, de Sam Mendes (diretor) e Allan Ball (roteirista), como uma critica sócio-política dos dias de hoje dos Estados Unidos é uma visão redutora e empobrecida de uma obra que tem características universais. Claro que em sendo situada nos Estados Unidos, inevitavelmente trará características da cultura daquela sociedade, mas a problemática de fundo transcende os limites da geografia. As infelicidades domésticas, as loucuras familiares não são privilégio do povo americano nem características específicas do nosso tempo.

Tal como em “Brás Cubas”, de Machado de Assis, AMERICAN BEAUTY trata das “memórias póstumas” de Lester Burnham, interpretado por Kevin Spacey em grande atuação. Ele é um homem de meia-idade que ao ser despedido do trabalho sofre uma forte crise de identidade. Regride a um comportamento adolescente – recusa-se a procurar um emprego condigno, vai trabalhar numa lanchonete, passa a fumar maconha, ouvir os discos de sua juventude, fica fazendo fantasias sexuais com uma adolescente amiga de sua filha, vai fazer musculação para tentar impressioná-la.

Poderíamos considerar o filme uma sinfonia em torno da meia-idade. Uma passagem difícil por ser aquela em que fica mais evidente que muitas das exigências do ideal do ego não se concretizarão. Não é mais possível manter a ilusão de que elas se concretizarão no futuro, pois este já chegou e não trouxe o que era esperado. Daí as feridas narcísicas, a depressão por não poder alcançar o que o ideal do ego exigia. (…)

O texto completo encontra-se no livro “O psicanalista vai ao cinema” – EdUFSCar / Casa do Psicólogo, 2004.

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