“Gente da Sicília” e “Cronicamente Inviável”

Dois filmes que lidam com o problema da identidade.

1) “Sicilia!” (Gente da Sicília), do casal Jean-marie Straub e Danièlle Huillet

Baseia-se no romance “CONVERSA NA SICILIA” de Elio Vittorini, dos anos 30, censurado pela fascismo. O enredo é simples: um homem que mora no norte da Itália, volta ao lar antigo, na Sicília, onde faz descobertas sobre seu passado.

O que chama atenção é a forma escolhida pelo casal diretor para esta transposição de um texto literário para a tela. O filme tem pouco mais de 60 minutos mas sua extraordinária secura faz com que muitas pessoas abandonem a sala de projeção antes do fim. Beirando um documentário neo-realista do pós-guerra italiano, exibe uma total desglamurização dos personagens e do cenário, do próprio cinema como forma de arte. É como se os diretores quizessem não representar a dureza daquelas vidas, mas trazê-la diretamente, sem intermediação da arte. O mesmo se poderia dizer do tratamento dado ao tempo, que parece ter uma realidade própria, concreta, como se o próprio tempo “real” nos envolvesse a todos, espectadores e atores. A câmara quase parada grava as longas falas, que são ditas num tom naturalistico, apesar de adquirirem um tom declamatório, como se cada ator executasse uma ária. A quase ausência de diálogos, a predominância de monólogos, parece ressaltar a solidão e introspecção dos personagens. (…)

O texto completo encontra-se no livro “O psicanalista vai ao cinema” – EdUFSCar / Casa do Psicólogo, 2004.

2) “Crônicamente inviável“, de Sergio Bianchi.

Um escritor perambula pelos rincões distantes do Brasil, tentando entender-lhe a essência, despejando seu cinismo sobre tudo que vê. Intelectuais discutem os temas da identidade brasileira, mais ou menos como se discutia o sexo dos anjos na sitiada Bizâncio. Um casal burguês ostenta com orgulho sua “mauvaise conscience”, às volta com jantares, festinhas, benemerências. No microcosmo de um restaurante seguimos o périplo dos migrantes, que oscilam entre o trabalho aviltante e a prostituição, as relações perversas entre patrão e empregados, a escalada social da ambiciosa “hostess”, disposta a tudo para “chegar lá”.

Uma indigesta mistura de sem-terras, sem-tetos, sem-nadas, cheiradores de cola, migrantes, mobilidade social, negação das próprias origens, madames apressadas que atropelam meninos de rua e logo dizem não ter culpa nenhuma, empregadas domésticas “amigas” das patroas, preconceitos de variada temática: negros, crioulos, nordestinos, judeus, brancos quatrocentões, indios, descendentes de europeus, ricos, pobres e remediados. (…)

O texto completo encontra-se no livro “O psicanalista vai ao cinema” – EdUFSCar / Casa do Psicólogo, 2004.

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