CIDADE DE DEUS

A Exclusão e o Processo Civilizatório

Zé Pequeno (Leandro Firmino da Hora). © Copyright 2002 - O2 FILMES.Cidade de Deus“, o festejado filme de Fernando Meireles, é baseado no livro homônimo de Paulo Lins. A matéria prima do romance veio de uma pesquisa sobre criminalidade na favela carioca Cidade de Deus, da qual participou o autor. A partir de personagens reais e fatos ali ocorridos, Lins construiu seu enredo, situado nos anos 70 e 80, mostrando como o tráfico de drogas se iniciou timidamente, apenas mais uma entre várias práticas marginais, como assaltos e roubos, até se instalar como atividade principal das gangues. Vemos ali, in statu nascendi, a força e o poder econômico que essas novas quadrilhas atingiram, a ponto de serem hoje um poder paralelo, que desafia o estado, impondo suas próprias exigências.

Tanto o romance como o filme – que focalizam a extraordinária violência da fração marginal – não estão preocupados em fazer um relato documental sobre a favela como um todo. Em sua rica complexidade social, a favela entremescla trabalhadores honestos e bandidos, em áreas bem delimitadas e discriminadas, segundo o próprio autor. Ele mesmo é uma evidência disso, pois sempre morou na Cidade de Deus com seus pais, numa família bem constituída, estudou regularmente e entrou numa universidade. Antes do romance que foi filmado, escrevera livros de poesia.

É necessário dizer isso para evitar estereótipos que confundem favelados com marginais. Embora ambos convivam em situações muitas vezes sub-humanas, miseráveis e de exclusão, nem todos reagem da mesma forma a essa privação. O que faz com que frente a miséria e suas condições degradantes, alguns optem, se é que podemos falar assim, pelo crime e outros não, é uma das questões que ventilaremos aqui, sem pretender esgotá-la. (…)

O texto completo encontra-se no livro “O psicanalista vai ao cinema” – EdUFSCar / Casa do Psicólogo, 2004.

Compartilhe nas redes

Facebook
Twitter
LinkedIn