Anatomia é o Destino

Em 1976, a China estabeleceu uma política de controle demográfico que permite aos casais uma única gestação, a criação de um único filho. Tal política tem tido efeitos sociais gravíssimos: 111 milhões de chineses jamais casarão, 6 milhões de meninas chamam-se Lai-di ou Ziao-di (“chame por um irmão”, “traga um irmão”), e – o mais chocante – a prática sistemática do infanticídio das crianças do sexo feminino, o abandono de mais de 1 milhão de meninas recém-nascidas cada ano (Folha de São Paulo, 11/1/99).

Anatomia é o destino, disse Freud, para enfatizar os efeitos determinantes que as diferenças anatômicas entre os sexos exercem sobre a nossa constituição como sujeitos humanos. Cada cultura, cada sociedade elabora esta diferença de maneira específica, prescrevendo condutas e papéis adequados para cada sexo. Ao sexo biológico com o qual se é dotado ao nascer, soma-se o complexo processo de identificação e estruturação psiquicas, cujos pontos culminantes são o Complexo de Édipo e o Complexo de Castração, que farão, no melhor dos casos, coincidir o sexo psicológico com o biológico. Anatomia é o destino. Os acontecimentos na China confirmam de forma dramática a frase freudiana.

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